Et tu, Brute?



A corrupção é uma praga que atinge a política brasileira e de resto todo o mundo. Creio que política e corrupção foram criadas no mesmo caldeirão do capeta e bem jutinhas. São coisas antigas, aquecidas pela fogueira do mesmo quintal em que homem desenvolveu seu espírito gregário e resolveu delegar funções administrativas para um síndico da aldeia. Deduz-se que as famosas frases “essa assinatura não é minha”, ou “eu não sabia de nada”, ou “perguntem aos meus assessores”, ou “cunhado não é parente” remontam dessa época que também marca o nascimento do puxa-saco, conhecido algures e alhures como lambe-botas.

Mais adiante na história, e agora com registros mais ou menos confiáveis, a Roma antiga cai pela corrupção e o uso indiscriminado de punhais nas costas das vítimas e quando não, veneno na comida e bebidas. A decadência romana vem do suborno, tráfico de influência, dilapidação do erário, roubo, assassinatos e da venda de cargos públicos, inclusive os de generais e o de chefe máximo do Estado. A coisa ficou mais descarada depois da morte de Júlio César (Caius Iulius Caesar, 100 - 44 a.C) Ora, se é possível assassinar um ditador de “origem divina”, como poupar outros cidadãos que se colocavam temerariamente no caminho dos conspiradores e desonestos? É bom que se diga que César morreu depois de receber oito punhaladas nas costas. Os assassinos tiveram destino semelhante ao de César, até mesmo Brutus (Marcus Junius Brutus - 85- 42 a.C), familiar do ditador que teria recebido suas últimas palavras: “Et tu, Brute?” . Mas sobre isso não há consenso entre os historiadores e dramaturgos. Para Willian Shakespeare (1564-1676), quem deu a última palavra foi Brutus, ainda com o sangue de César fresquinho nas mãos: “...Then fall, Caesar”  – então caia, César.

Bom, essa discussão agora nos parece inútil, porque não importa aqui a frase final que marcou o assassinato do ditador. Factum atque transactum est, o que restou foi apenas a moral da história, ou seja, quando o assunto é poder, tudo vale, pois o silêncio alcançado pelos conspiradores certamente deveu-se a promessas e suborno a seus pares no Senado. E eis aqui nossa abordagem inicial: a corrupção que se abraça à política e ao político e muitas vezes num abraço de afogado. Tem gente que prefere jogar uma vida fora, o próprio nome na lama, para garantir vantagens privadas com a res publica.

Por essas razões, os corruptos mentem e sustentam a mentira na maior safadeza. Quando vejo governantes – e aí pode ser presidente, magistrado, ministro, deputado, senador ou até mesmo um vereadorzinho de meia pataca –, jurarem que miado de gato é latido e que rolar na sujeira é a melhor maneira de se limpar, sinto em mim, de profundis, instintos primitivos não iguais, porém semelhantes aos que motivaram Brutus e seus desafortunados amigos, porque a corrupção é a raiz da miséria e indigência intelectual de boa parte de nosso povo. Mas depois me acalmo, porque creio que, mais cedo ou mais tarde, justiça será feita, mesmo que seja póstuma, ao se escancararem as tristes biografias dos corruptos nos livros de história.

(J. F. Nandé, 23/11/2011)

Expressões latinas deste texto

Et tu, Brute?: Até tu, Brutus?
De profundis: Das profundezas (Salmo 130).
Factum atque transactum est: Está feito e já passou (Marcus Tullius Cicero, 106 – 43 a.C.).
Res publica: A coisa pública.

Um comentário:

Ana Coeli Ribeiro disse...

"A Justiça será feita, mesmo que seja póstuma" É isso amigo!
Luz!
Ana